"O Rav Elazar Man Shach zt"l (Lituânia, 1899 - Israel, 2001), o Rosh Yeshivá (Diretor espiritual) de Ponovitch, em Bnei Brak, foi um dos maiores rabinos da geração passada. Além de ser um gigante em termos de conhecimento da Torá, estudando incessantemente e com muito fervor, ele era também uma pessoa extremamente preocupada com o bem estar do povo judeu.
Quando sua saúde começou a ficar fragilizada por causa da idade avançada, o Rav Shach se viu forçado a interromper as aulas que, por tantos e tantos anos, ele havia dado na Yeshivá. Porém, além da tristeza de não conseguir mais transmitir seus conhecimentos aos alunos, havia algo que começou a deixar o Rav Shach extremamente incomodado. Ele começou a ter dúvidas se poderia continuar recebendo seu salário e morando no apartamento que pertencia à Yeshivá, já que não estava mais conseguindo exercer as suas funções de Rosh Yeshivá. Extremamente preocupado com a situação, ele foi procurar o Rav Yossef Shalom Elyashiv zt"l (Lituânia, 1910 – Israel, 2012), que na época já era um dos maiores "Poskim" (legisladores) da geração. O Rav Shach contou ao Rav Eliashiv suas preocupações e acrescentou:
- Logo eu terei que me apresentar diante do Tribunal Celestial. Eu não quero receber nada que não me pertence, pois sei que serei severamente cobrado por isso.
- Não se preocupe – respondeu o Rav Eliashiv, após pensar por alguns instantes – A Yeshivá ainda precisa muito de você. O simples fato de você ainda estar aqui, de ser visto pelos alunos e pelos rabinos da Yeshivá, já é uma enorme fonte de inspiração para eles.
O Rav Shach ainda não estava satisfeito com a resposta do Rav Eliashiv. Ele questionou novamente:
- Desculpe, mas você está me dando sua opinião ou isto é um "Psak Halachá" (uma determinação legal)?
- É um "Psak Halachá" – respondeu o Rav Eliashiv - Você não pode ir embora. A Yeshivá e o povo judeu ainda precisam muito de você e de seus exemplos"
O mais impressionante é perceber que o Rav Shach não estava preocupado se seria despejado do seu apartamento em uma idade avançada ou se ficaria sem seu salário e não teria como se sustentar em sua velhice. Ele estava preocupado apenas com o bem estar do povo judeu. Após servir a Yeshivá por décadas, entregando-se de corpo e alma ao seu trabalho, ele achava que caso não pudesse mais contribuir com nada, que seria melhor para a Yeshivá que ele fosse embora. Estes são os verdadeiros líderes do povo judeu, cujo bem estar do povo vem antes de suas próprias necessidades pessoais.
Quando sua saúde começou a ficar fragilizada por causa da idade avançada, o Rav Shach se viu forçado a interromper as aulas que, por tantos e tantos anos, ele havia dado na Yeshivá. Porém, além da tristeza de não conseguir mais transmitir seus conhecimentos aos alunos, havia algo que começou a deixar o Rav Shach extremamente incomodado. Ele começou a ter dúvidas se poderia continuar recebendo seu salário e morando no apartamento que pertencia à Yeshivá, já que não estava mais conseguindo exercer as suas funções de Rosh Yeshivá. Extremamente preocupado com a situação, ele foi procurar o Rav Yossef Shalom Elyashiv zt"l (Lituânia, 1910 – Israel, 2012), que na época já era um dos maiores "Poskim" (legisladores) da geração. O Rav Shach contou ao Rav Eliashiv suas preocupações e acrescentou:
- Logo eu terei que me apresentar diante do Tribunal Celestial. Eu não quero receber nada que não me pertence, pois sei que serei severamente cobrado por isso.
- Não se preocupe – respondeu o Rav Eliashiv, após pensar por alguns instantes – A Yeshivá ainda precisa muito de você. O simples fato de você ainda estar aqui, de ser visto pelos alunos e pelos rabinos da Yeshivá, já é uma enorme fonte de inspiração para eles.
O Rav Shach ainda não estava satisfeito com a resposta do Rav Eliashiv. Ele questionou novamente:
- Desculpe, mas você está me dando sua opinião ou isto é um "Psak Halachá" (uma determinação legal)?
- É um "Psak Halachá" – respondeu o Rav Eliashiv - Você não pode ir embora. A Yeshivá e o povo judeu ainda precisam muito de você e de seus exemplos"
O mais impressionante é perceber que o Rav Shach não estava preocupado se seria despejado do seu apartamento em uma idade avançada ou se ficaria sem seu salário e não teria como se sustentar em sua velhice. Ele estava preocupado apenas com o bem estar do povo judeu. Após servir a Yeshivá por décadas, entregando-se de corpo e alma ao seu trabalho, ele achava que caso não pudesse mais contribuir com nada, que seria melhor para a Yeshivá que ele fosse embora. Estes são os verdadeiros líderes do povo judeu, cujo bem estar do povo vem antes de suas próprias necessidades pessoais.
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Nesta semana lemos a Parashat Ki Tissá (que literalmente significa "Quando você fizer o levantamento"). A Parashat começa com a contagem do povo judeu através da doação de meio Shekel de prata cada um. A Parashat também descreve alguns utensílios e serviços feitos no Mishkan, como o "Ketoret", o incenso que era queimado no Mizbeach Hazahav (Altar de ouro), como está escrito: "E disse D'us para Moshé: Pegue para você especiarias..." (Shemot 30:34).
Mas se prestarmos atenção nestas palavras do versículo que descrevem o Ketoret, surge um grande questionamento. Por que a Torá utiliza a linguagem "pegue para você"? Por acaso o Ketoret era algo pessoal para Moshé? Ele era alguém egoísta, que buscava honras, prestígio e benefícios pessoais através da sua liderança sobre o povo?
Para entendermos estas palavras do versículo, precisamos nos aprofundar um pouco mais na Parashat Korach. Korach, movido pela inveja, conseguiu convencer um grupo de pessoas da tribo de Levi a participar de uma rebelião contra seu primo Moshé, para tentar derrubá-lo do poder. Korach tentou diminuir Moshé aos olhos do povo ridicularizando seus ensinamentos. D'us castigou todo aquele grupo de rebeldes, fazendo com que alguns fossem engolidos pela terra de uma maneira completamente sobrenatural, enquanto outros fossem consumidos por um fogo Divino. Porém, a morte de Korach e seus seguidores, ao invés de tranquilizar o povo, deixou as pessoas ainda mais irritadas, por acharem que Moshé era o culpado pelas mortes. D'us então mandou uma praga que começou a dizimar o povo, como está escrito: "E Moshé disse para Aharon: "Pegue a pá de incenso, e ponha fogo do altar, e coloque nela o Ketoret, e carregue ela rapidamente para a congregação, para trazer expiação para eles, pois a fúria saiu de D'us e a praga começou. E Aharon levou, conforme Moshé disse, e correu para o meio da congregação... e a praga foi interrompida" (Bamidbar 17:11-13).
Nestes versículos há algo interessante. Não foi D'us que ordenou Moshé a utilizar o Ketoret para salvar o povo, aparentemente Moshé já tinha este conhecimento. De onde Moshé sabia que o Ketoret poderia fazer a praga parar? A resposta está em um incrível ensinamento do Talmud (Shabat 89a), que afirma que quando Moshé subiu no Monte Sinai para receber a Torá, cada anjo deu a ele um presente. Entre eles estava o anjo da morte, que presenteou Moshé Rabeinu com o segredo de como interromper uma praga mortal. E o segredo era justamente a utilização do Ketoret, o incenso que Moshé utilizou para interromper aquela praga que devastava o povo judeu.
Mas como isto explica as palavras "pegue para você" em relação ao Ketoret, como se fosse algo entregue especialmente para Moshé? Explica o Rav Arie Leib Tzintz zt"l (Polônia1833), mais conhecido como Maharal Tzintz, que Moshé vivia pelo povo judeu. A honra de ter recebido segredos diretamente dos anjos não o preenchia tanto quanto poder servir e ajudar o seu povo. Ele não estava preocupado com a sua honra nem com os presentes que havia recebido dos anjos, e sim em como ele poderia utilizar tudo em prol do povo.
De todos os presentes que Moshé recebeu dos anjos, certamente para ele o mais precioso era o presente dado pelo anjo da morte. Salvar a vida de cada judeu era o motivo de sua existência. Mesmo quando ele estava no conforto do palácio do Faraó, ele saiu de casa para sentir junto com seus irmãos os sofrimentos da escravidão. Quando viu um egípcio golpeando um judeu, imediatamente arriscou sua posição, e até mesmo sua vida, para salvar o judeu. Não havia na vida de Moshé nada mais importante do que o seu povo. Porém, o Ketoret ensinado pelo anjo da morte era um presente ainda incompleto. Embora Moshé já sabia do segredo do Ketoret, este segredo não tinha nenhum valor para ele, pois era proibido fazer o Ketoret de maneira privada.
Por isso, somente quando D'us comandou Moshé a fazer o Ketoret é que o presente ficou completo. A partir daquele momento havia permissão de usar o Ketóret e, se necessário, salvar vidas com ele. É por isso que o versículo enfatiza "Pegue para você especiarias", pois somente a partir daquele momento Moshé realmente recebeu seu maior presente: a possibilidade de salvar a vida de um judeu.
Podemos aprender dois grandes ensinamentos desta Parashat. Em primeiro lugar, o quanto os bens materiais somente nos preenchem de verdade quando utilizamos para também ajudar o próximo. Um presente recebido de maneira egoísta pode até preencher em um primeiro momento, mas depois traz um grande vazio, enquanto saber dividir o que temos com os outros traz um preenchimento verdadeiro e duradouro. Em segundo lugar, aprendemos o que é ser um líder de verdade. Infelizmente estamos acostumados com líderes egoístas, que apenas querem chegar ao poder para obter benefícios pessoais. Mesmo aqueles com boas intenções acabam se corrompendo quando alcançam o poder e o acesso à grandes quantidades de dinheiro. Mas aprendemos de Moshé o que é ser um líder verdadeiro. Alguém cuja única preocupação, acima até mesmo das preocupações pessoais, era com o bem estar do seu povo. Que Moshé seja o nosso modelo, em um mundo onde os modelos verdadeiros de honestidade e preocupação com o próximo estão cada vez mais raros.
Mas se prestarmos atenção nestas palavras do versículo que descrevem o Ketoret, surge um grande questionamento. Por que a Torá utiliza a linguagem "pegue para você"? Por acaso o Ketoret era algo pessoal para Moshé? Ele era alguém egoísta, que buscava honras, prestígio e benefícios pessoais através da sua liderança sobre o povo?
Para entendermos estas palavras do versículo, precisamos nos aprofundar um pouco mais na Parashat Korach. Korach, movido pela inveja, conseguiu convencer um grupo de pessoas da tribo de Levi a participar de uma rebelião contra seu primo Moshé, para tentar derrubá-lo do poder. Korach tentou diminuir Moshé aos olhos do povo ridicularizando seus ensinamentos. D'us castigou todo aquele grupo de rebeldes, fazendo com que alguns fossem engolidos pela terra de uma maneira completamente sobrenatural, enquanto outros fossem consumidos por um fogo Divino. Porém, a morte de Korach e seus seguidores, ao invés de tranquilizar o povo, deixou as pessoas ainda mais irritadas, por acharem que Moshé era o culpado pelas mortes. D'us então mandou uma praga que começou a dizimar o povo, como está escrito: "E Moshé disse para Aharon: "Pegue a pá de incenso, e ponha fogo do altar, e coloque nela o Ketoret, e carregue ela rapidamente para a congregação, para trazer expiação para eles, pois a fúria saiu de D'us e a praga começou. E Aharon levou, conforme Moshé disse, e correu para o meio da congregação... e a praga foi interrompida" (Bamidbar 17:11-13).
Nestes versículos há algo interessante. Não foi D'us que ordenou Moshé a utilizar o Ketoret para salvar o povo, aparentemente Moshé já tinha este conhecimento. De onde Moshé sabia que o Ketoret poderia fazer a praga parar? A resposta está em um incrível ensinamento do Talmud (Shabat 89a), que afirma que quando Moshé subiu no Monte Sinai para receber a Torá, cada anjo deu a ele um presente. Entre eles estava o anjo da morte, que presenteou Moshé Rabeinu com o segredo de como interromper uma praga mortal. E o segredo era justamente a utilização do Ketoret, o incenso que Moshé utilizou para interromper aquela praga que devastava o povo judeu.
Mas como isto explica as palavras "pegue para você" em relação ao Ketoret, como se fosse algo entregue especialmente para Moshé? Explica o Rav Arie Leib Tzintz zt"l (Polônia1833), mais conhecido como Maharal Tzintz, que Moshé vivia pelo povo judeu. A honra de ter recebido segredos diretamente dos anjos não o preenchia tanto quanto poder servir e ajudar o seu povo. Ele não estava preocupado com a sua honra nem com os presentes que havia recebido dos anjos, e sim em como ele poderia utilizar tudo em prol do povo.
De todos os presentes que Moshé recebeu dos anjos, certamente para ele o mais precioso era o presente dado pelo anjo da morte. Salvar a vida de cada judeu era o motivo de sua existência. Mesmo quando ele estava no conforto do palácio do Faraó, ele saiu de casa para sentir junto com seus irmãos os sofrimentos da escravidão. Quando viu um egípcio golpeando um judeu, imediatamente arriscou sua posição, e até mesmo sua vida, para salvar o judeu. Não havia na vida de Moshé nada mais importante do que o seu povo. Porém, o Ketoret ensinado pelo anjo da morte era um presente ainda incompleto. Embora Moshé já sabia do segredo do Ketoret, este segredo não tinha nenhum valor para ele, pois era proibido fazer o Ketoret de maneira privada.
Por isso, somente quando D'us comandou Moshé a fazer o Ketoret é que o presente ficou completo. A partir daquele momento havia permissão de usar o Ketóret e, se necessário, salvar vidas com ele. É por isso que o versículo enfatiza "Pegue para você especiarias", pois somente a partir daquele momento Moshé realmente recebeu seu maior presente: a possibilidade de salvar a vida de um judeu.
Podemos aprender dois grandes ensinamentos desta Parashat. Em primeiro lugar, o quanto os bens materiais somente nos preenchem de verdade quando utilizamos para também ajudar o próximo. Um presente recebido de maneira egoísta pode até preencher em um primeiro momento, mas depois traz um grande vazio, enquanto saber dividir o que temos com os outros traz um preenchimento verdadeiro e duradouro. Em segundo lugar, aprendemos o que é ser um líder de verdade. Infelizmente estamos acostumados com líderes egoístas, que apenas querem chegar ao poder para obter benefícios pessoais. Mesmo aqueles com boas intenções acabam se corrompendo quando alcançam o poder e o acesso à grandes quantidades de dinheiro. Mas aprendemos de Moshé o que é ser um líder verdadeiro. Alguém cuja única preocupação, acima até mesmo das preocupações pessoais, era com o bem estar do seu povo. Que Moshé seja o nosso modelo, em um mundo onde os modelos verdadeiros de honestidade e preocupação com o próximo estão cada vez mais raros.
SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm
Rav Efraim Birbojm
http://ravefraim.blogspot.com.br/
Ex. 30:11-34:35, 1Re. 18:1-39
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