Era
uma vez duas vizinhas, dona Miriam e dona Rosa, que viviam em pé de guerra. Não
podiam se encontrar na rua que era briga na certa. Depois de um tempo, dona
Miriam se arrependeu de tantas brigas e resolveu fazer as pazes com dona Rosa.
Ao se encontrarem na rua, muito humildemente, dona Miriam falou:
- Querida dona Rosa, já estamos nessa desavença há anos, e sem nenhum motivo verdadeiro. Estou propondo que façamos as pazes e vivamos como duas boas e velhas amigas.
Na hora, a dona Rosa estranhou a atitude da velha rival e disse que iria pensar no caso. No caminho, pensamentos de desconfiança começaram a vir em sua cabeça. Será que a dona Miriam no fundo estava querendo aprontar alguma coisa? Como a dona Rosa não queria ficar por baixo, decidiu mandar para a dona Miriam um "presente". Chegando em casa, preparou uma bela cesta de presentes, cobriu-a com um lindo papel, e encheu-a de esterco de vaca. Ela ficou a tarde inteira rindo sozinha, imaginando a cara da dona Miriam ao receber aquele maravilhoso "presente". Mandou a empregada levar o presente à casa da rival, com um bilhete: "Aceito sua proposta de paz. Para selarmos nosso compromisso, envio esse lindo presente".
Quando dona Miriam abriu o pacote recebido, seu sorriso se transformou em espanto. Não conseguia entender porque a dona Rosa havia mandado aquele "presente". Ela estava tentando fazer as pazes com tanto esforço, por que sua vizinha continuava se comportado de maneira tão rude?
Alguns dias depois, dona Rosa recebeu uma linda cesta de presentes, coberta com um belo papel. Se preparou, achando que era a vingança daquela vizinha asquerosa. Ficou com medo de abrir o pacote, imaginando o que ela poderia ter aprontado. Mas em certo momento a curiosidade foi mais forte que o medo, e ela abriu. Para sua surpresa, viu um lindo arranjo das mais belas flores, junto com um cartão que trazia a seguinte mensagem: "Estas flores são o que eu te ofereço em prova da minha amizade. Foram cultivadas com o esterco que você me enviou, e que proporcionou excelente adubo para o meu jardim. Afinal, querida vizinha, cada um dá o que tem em abundância em sua vida".
As coisas mais mundanas podem ser utilizadas de uma maneira negativa, ou podem ser canalizadas para trazer coisas boas, para nós e para os outros.
**************************************************** - Querida dona Rosa, já estamos nessa desavença há anos, e sem nenhum motivo verdadeiro. Estou propondo que façamos as pazes e vivamos como duas boas e velhas amigas.
Na hora, a dona Rosa estranhou a atitude da velha rival e disse que iria pensar no caso. No caminho, pensamentos de desconfiança começaram a vir em sua cabeça. Será que a dona Miriam no fundo estava querendo aprontar alguma coisa? Como a dona Rosa não queria ficar por baixo, decidiu mandar para a dona Miriam um "presente". Chegando em casa, preparou uma bela cesta de presentes, cobriu-a com um lindo papel, e encheu-a de esterco de vaca. Ela ficou a tarde inteira rindo sozinha, imaginando a cara da dona Miriam ao receber aquele maravilhoso "presente". Mandou a empregada levar o presente à casa da rival, com um bilhete: "Aceito sua proposta de paz. Para selarmos nosso compromisso, envio esse lindo presente".
Quando dona Miriam abriu o pacote recebido, seu sorriso se transformou em espanto. Não conseguia entender porque a dona Rosa havia mandado aquele "presente". Ela estava tentando fazer as pazes com tanto esforço, por que sua vizinha continuava se comportado de maneira tão rude?
Alguns dias depois, dona Rosa recebeu uma linda cesta de presentes, coberta com um belo papel. Se preparou, achando que era a vingança daquela vizinha asquerosa. Ficou com medo de abrir o pacote, imaginando o que ela poderia ter aprontado. Mas em certo momento a curiosidade foi mais forte que o medo, e ela abriu. Para sua surpresa, viu um lindo arranjo das mais belas flores, junto com um cartão que trazia a seguinte mensagem: "Estas flores são o que eu te ofereço em prova da minha amizade. Foram cultivadas com o esterco que você me enviou, e que proporcionou excelente adubo para o meu jardim. Afinal, querida vizinha, cada um dá o que tem em abundância em sua vida".
As coisas mais mundanas podem ser utilizadas de uma maneira negativa, ou podem ser canalizadas para trazer coisas boas, para nós e para os outros.
Nesta
semana lemos a Parashá Balak, que nos descreve os maus atos de um dos maiores
odiadores do povo judeu: o profeta Bilaam. Ele tinha um enorme poder espiritual
e conseguia amaldiçoar as pessoas, de indivíduos a povos inteiros, e utilizava
este "dom" para ganhar dinheiro e honra. Balak, o rei do povo de Moav, apavorado
com o avanço do povo judeu e suas vitórias esmagadoras, contratou Bilaam para
amaldiçoar o povo judeu. Apesar de D'us ter proibido Bilaam de se juntar a Balak
com a intenção de prejudicar o povo judeu, Bilaam interpretou as palavras de
D'us da maneira como lhe convinha, e por três vezes tentou amaldiçoar os judeus,
mas foi impedido por D'us, que os protegeu e transformou as maldições em Brachót
(bençãos).
Uma das Brachót que acabaram saindo da boca de Bilaam foi: "Quem contou o pó de Yaacov?" (Bamidbar 23:10). O que significam estas palavras? Que tipo de Brachá Bilaam estava dando ao povo judeu? Explica Rashi (França, 1040 - 1105), citando um Midrash (parte da Torá Oral), que as palavras de Bilaam podem ser entendidas como se ele estivesse dizendo: "Quem pode contar as Mitzvót agrícolas que o povo judeu cumpre, de tão numerosas que elas são". Porém, desta explicação do Rashi ainda não fica claro porque justamente as Mitzvót agrícolas, ligadas à terra, chamaram a atenção de Bilaam.
A resposta está um importante ensinamento em relação à Criação do mundo. No terceiro dia da criação, D'us instruiu que houvesse vegetação, como está escrito: "E disse D'us: que a terra produza vegetação: grama produzindo semente, árvores de frutas produzindo frutas de sua espécie" (Bereshit 1:11). Porém, no momento em que as árvores realmente foram criadas, o versículo utiliza uma linguagem diferente: "e árvores produzindo frutos" (Bereshit 1:12). Ao invés de "árvores de frutas produzindo frutas", o versículo disse apenas "árvores produzindo frutas". Rashi explica que esta diferença é porque D'us comandou que a terra produzisse árvores que também fossem comestíveis e que tivessem o mesmo gosto das frutas que produzissem. Isto significa que, de acordo com a ideia original de D'us, se alguém quisesse comer partes do tronco de uma macieira, sentiriam o mesmo gosto que sentem ao comer uma deliciosa maça. Porém, a terra não obedeceu ao comando de D'us e produziu árvores que, apesar de darem frutos, elas mesmas não eram comestíveis. Esta "indisciplina" da terra não passou despercebida aos olhos de D'us, e quando Adam Harishon transgrediu e foi amaldiçoado por ter comido o fruto do conhecimento do bem e do mal, D'us amaldiçoou também a terra, como está escrito: "Maldita é a terra por sua causa" (Bereshit 3:17).
Porém, como entender este ensinamento da Torá de que a terra desobedeceu a vontade de D'us? Qual é o conceito espiritual que está sendo transmitido? Além disso, se a terra transgrediu a vontade de D'us, por que sua punição foi postergada até o momento em que Adam foi castigado, ao invés de ser aplicada imediatamente?
Responde o Rav Yohanan Zweig shlita que obviamente a terra não pode se rebelar contra a vontade de D'us. Portanto, a explicação é que quando D'us criou a terra, Ele mesmo já "programou-a" de maneira que, ao invés de produzir árvores em seu estado perfeito, que tinham o mesmo gosto de suas frutas, a terra produziria algo imperfeito. Mas por que D'us criou uma ilusão de que uma de suas criaturas estava se rebelando contra Ele?
O nome "Adam" vem da mesma raiz da palavra "Adamá", que significa "terra", pois o homem foi criado da terra, como está escrito "E D'us formou o homem do pó da terra" (Bereshit 2:7). E como o homem foi criado da terra, e a terra "escolheu" não seguir a vontade de D'us, é isto o que dá ao ser humano a possibilidade do livre arbítrio, isto é, da escolha entre obedecer a vontade de D'us ou se rebelar contra ela. E como a possibilidade do homem transgredir é consequência dele ter sido criado da terra, foi somente no momento em que ele realmente transgrediu que a terra também foi castigada. A punição da terra representa um aprofundamento da ilusão de que a terra tem a sua independência e a possibilidade de escolher não obedecer a vontade de D'us. Da punição da terra aprendemos as consequências negativas de quando utilizamos nossa livre escolha de maneira equivocada.
Portanto, o propósito final das Mitzvót agrícolas, que envolvem o uso da terra, é pegar o elemento da criação que parece estar mais distante e desconectado de D'us, e que carrega a maior expressão do distanciamento de D'us do mundo, que é a terra, e reconectá-la a D'us. E justamente por ser o elemento que aparenta estar mais desconectado, ao ser reconectado ele revela o poder de D'us de uma maneira mais forte.
Foi justamente este potencial do povo judeu, o potencial de pegar algo que foi amaldiçoado e transformar em uma Brachá, de reconectar a D'us algo que havia se desconectado, que teve um impacto tão grande sobre Bilaam. Ele reconheceu que o povo judeu tem a incrível habilidade de ver algo amaldiçoado como uma oportunidade de revelar o poder de D'us, e não como um obstáculo. O povo judeu tinha a força de transformar a maldição da terra em Mitzvót agrícolas. Por isso Bilaam entendeu que o povo judeu estava imune às suas terríveis maldições, que ao saírem de sua boca se transformavam em Brachót.
Este é o potencial do povo judeu: transformar as coisas mais mundanas em espirituais. Através do estudo da Torá aprendemos a utilizar o mundo material de forma a elevá-lo. Mesmo os atos mais básicos do ser humano podem ser transformados em formas de nos aproximar de D'us. Por exemplo, apesar de comer ser um ato que até mesmo os animais fazem, podemos transformar nossa mesa em um "Mizbeach" (altar de oferendas) para D'us. Limitar nossa alimentação apenas às coisas que D'us nos permitiu, dizer Brachót antes e depois de comer e os bons modos na mesa transformam o alimento físico em algo espiritual. Assim, podemos nos conectar a D'us através das coisas mais elevadas, como a Tefilá (reza), e também podemos estabelecer e manter esta conexão através das coisas mais mundanas do nosso dia a dia. Esta foi a Brachá que saiu da boca de Bilaam, e que nos acompanha até os nossos dias.
SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm
Uma das Brachót que acabaram saindo da boca de Bilaam foi: "Quem contou o pó de Yaacov?" (Bamidbar 23:10). O que significam estas palavras? Que tipo de Brachá Bilaam estava dando ao povo judeu? Explica Rashi (França, 1040 - 1105), citando um Midrash (parte da Torá Oral), que as palavras de Bilaam podem ser entendidas como se ele estivesse dizendo: "Quem pode contar as Mitzvót agrícolas que o povo judeu cumpre, de tão numerosas que elas são". Porém, desta explicação do Rashi ainda não fica claro porque justamente as Mitzvót agrícolas, ligadas à terra, chamaram a atenção de Bilaam.
A resposta está um importante ensinamento em relação à Criação do mundo. No terceiro dia da criação, D'us instruiu que houvesse vegetação, como está escrito: "E disse D'us: que a terra produza vegetação: grama produzindo semente, árvores de frutas produzindo frutas de sua espécie" (Bereshit 1:11). Porém, no momento em que as árvores realmente foram criadas, o versículo utiliza uma linguagem diferente: "e árvores produzindo frutos" (Bereshit 1:12). Ao invés de "árvores de frutas produzindo frutas", o versículo disse apenas "árvores produzindo frutas". Rashi explica que esta diferença é porque D'us comandou que a terra produzisse árvores que também fossem comestíveis e que tivessem o mesmo gosto das frutas que produzissem. Isto significa que, de acordo com a ideia original de D'us, se alguém quisesse comer partes do tronco de uma macieira, sentiriam o mesmo gosto que sentem ao comer uma deliciosa maça. Porém, a terra não obedeceu ao comando de D'us e produziu árvores que, apesar de darem frutos, elas mesmas não eram comestíveis. Esta "indisciplina" da terra não passou despercebida aos olhos de D'us, e quando Adam Harishon transgrediu e foi amaldiçoado por ter comido o fruto do conhecimento do bem e do mal, D'us amaldiçoou também a terra, como está escrito: "Maldita é a terra por sua causa" (Bereshit 3:17).
Porém, como entender este ensinamento da Torá de que a terra desobedeceu a vontade de D'us? Qual é o conceito espiritual que está sendo transmitido? Além disso, se a terra transgrediu a vontade de D'us, por que sua punição foi postergada até o momento em que Adam foi castigado, ao invés de ser aplicada imediatamente?
Responde o Rav Yohanan Zweig shlita que obviamente a terra não pode se rebelar contra a vontade de D'us. Portanto, a explicação é que quando D'us criou a terra, Ele mesmo já "programou-a" de maneira que, ao invés de produzir árvores em seu estado perfeito, que tinham o mesmo gosto de suas frutas, a terra produziria algo imperfeito. Mas por que D'us criou uma ilusão de que uma de suas criaturas estava se rebelando contra Ele?
O nome "Adam" vem da mesma raiz da palavra "Adamá", que significa "terra", pois o homem foi criado da terra, como está escrito "E D'us formou o homem do pó da terra" (Bereshit 2:7). E como o homem foi criado da terra, e a terra "escolheu" não seguir a vontade de D'us, é isto o que dá ao ser humano a possibilidade do livre arbítrio, isto é, da escolha entre obedecer a vontade de D'us ou se rebelar contra ela. E como a possibilidade do homem transgredir é consequência dele ter sido criado da terra, foi somente no momento em que ele realmente transgrediu que a terra também foi castigada. A punição da terra representa um aprofundamento da ilusão de que a terra tem a sua independência e a possibilidade de escolher não obedecer a vontade de D'us. Da punição da terra aprendemos as consequências negativas de quando utilizamos nossa livre escolha de maneira equivocada.
Portanto, o propósito final das Mitzvót agrícolas, que envolvem o uso da terra, é pegar o elemento da criação que parece estar mais distante e desconectado de D'us, e que carrega a maior expressão do distanciamento de D'us do mundo, que é a terra, e reconectá-la a D'us. E justamente por ser o elemento que aparenta estar mais desconectado, ao ser reconectado ele revela o poder de D'us de uma maneira mais forte.
Foi justamente este potencial do povo judeu, o potencial de pegar algo que foi amaldiçoado e transformar em uma Brachá, de reconectar a D'us algo que havia se desconectado, que teve um impacto tão grande sobre Bilaam. Ele reconheceu que o povo judeu tem a incrível habilidade de ver algo amaldiçoado como uma oportunidade de revelar o poder de D'us, e não como um obstáculo. O povo judeu tinha a força de transformar a maldição da terra em Mitzvót agrícolas. Por isso Bilaam entendeu que o povo judeu estava imune às suas terríveis maldições, que ao saírem de sua boca se transformavam em Brachót.
Este é o potencial do povo judeu: transformar as coisas mais mundanas em espirituais. Através do estudo da Torá aprendemos a utilizar o mundo material de forma a elevá-lo. Mesmo os atos mais básicos do ser humano podem ser transformados em formas de nos aproximar de D'us. Por exemplo, apesar de comer ser um ato que até mesmo os animais fazem, podemos transformar nossa mesa em um "Mizbeach" (altar de oferendas) para D'us. Limitar nossa alimentação apenas às coisas que D'us nos permitiu, dizer Brachót antes e depois de comer e os bons modos na mesa transformam o alimento físico em algo espiritual. Assim, podemos nos conectar a D'us através das coisas mais elevadas, como a Tefilá (reza), e também podemos estabelecer e manter esta conexão através das coisas mais mundanas do nosso dia a dia. Esta foi a Brachá que saiu da boca de Bilaam, e que nos acompanha até os nossos dias.
SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm
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