"No dia 19 de agosto de 2003, um
terrível atentado terrorista despedaçou o coração do povo judeu. O ônibus número
2, da companhia israelense Egged, que havia recém saído do Kotel (Muro das
Lamentações) e estava completamente lotado, foi explodido por um terrorista
suicida. 24 pessoas morreram, entre elas bebês e crianças, e mais de 130 ficaram
feridas.
Um dos feridos era Yossef Rosenbaum (nome fictício), um judeu religioso que precisou ficar alguns dias internado no hospital por causa dos ferimentos causados pelos estilhaços. Um repórter veio ao hospital para entrevistá-lo e saber mais detalhes sobre o atentado. Yossef, apesar das dores que ainda sentia, respondeu a todas as perguntas do repórter com paciência. Quando a entrevista terminou e o repórter preparava-se para sair, Yossef chamou-o e disse:
- Será que você poderia me fazer um grande favor? Quando eu entrei no ônibus com meus três filhos, eu tive que entrar pela porta de trás, pois estava lotado. Eu estava esperando o ônibus esvaziar um pouco para poder chegar até o motorista e pagar as passagens. Porém, infelizmente a explosão aconteceu antes de eu ter a oportunidade de pagar. Portanto, será que você poderia pedir para algum funcionário da Egged vir ao hospital para que eu possa pagar pelas passagens?
Certamente o repórter aprendeu naquele dia uma incrível lição de honestidade e temor a D'us. Foi um ato de Kidush Hashem (santificação do nome de D'us), que podemos fazer mesmo nas situações mais cotidianas da vida, simplesmente sendo honestos. (História Real)
Um dos feridos era Yossef Rosenbaum (nome fictício), um judeu religioso que precisou ficar alguns dias internado no hospital por causa dos ferimentos causados pelos estilhaços. Um repórter veio ao hospital para entrevistá-lo e saber mais detalhes sobre o atentado. Yossef, apesar das dores que ainda sentia, respondeu a todas as perguntas do repórter com paciência. Quando a entrevista terminou e o repórter preparava-se para sair, Yossef chamou-o e disse:
- Será que você poderia me fazer um grande favor? Quando eu entrei no ônibus com meus três filhos, eu tive que entrar pela porta de trás, pois estava lotado. Eu estava esperando o ônibus esvaziar um pouco para poder chegar até o motorista e pagar as passagens. Porém, infelizmente a explosão aconteceu antes de eu ter a oportunidade de pagar. Portanto, será que você poderia pedir para algum funcionário da Egged vir ao hospital para que eu possa pagar pelas passagens?
Certamente o repórter aprendeu naquele dia uma incrível lição de honestidade e temor a D'us. Foi um ato de Kidush Hashem (santificação do nome de D'us), que podemos fazer mesmo nas situações mais cotidianas da vida, simplesmente sendo honestos. (História Real)
***********************************************
Nesta semana lemos a Parashá Chukat
que fala, entre outros assuntos, sobre um erro de Moshé que o fez perder o
direito de entrar na Terra de Israel. O povo judeu estava no deserto e se
revoltou contra Moshé por causa da falta de água. D'us ordenou que Moshé desse
água ao povo de uma forma milagrosa, falando com uma pedra, mas ao invés de
falar com a pedra, Moshé a golpeou com seu cajado. A Torá então nos conta que
Moshé foi castigado, como está escrito: "E disse D'us para Moshé e para Aharon:
pelo fato que vocês não confiaram em mim, para Me santificar diante de todos os
Filhos de Israel, por isso vocês não trarão este povo para a terra que Eu dei
para vocês" (Bamidbar 20:12). Deste versículo muito comentaristas da Torá
aprendem que o principal erro de Moshé neste episódio foi não ter santificado o
nome de D'us diante do povo judeu.
Mas desta explicação fica uma grande pergunta: por que foi considerado menos Kidush Hashem as pessoas terem recebido água retirada de uma pedra através do cajado de Moshé? Não foi um enorme milagre o fato de mais de 3 milhões de pessoas terem recebido água para beber, retirada de uma pedra no meio do deserto? Qual teria sido a diferença se Moshé tivesse falado com a pedra, ao invés de golpeá-la?
Afirma o Rambam (Maimônides) (Espanha, 1135 - Egito, 1204), que todos os milagres que já ocorreram e os que ainda vão ocorrer foram originalmente programados nos 6 dias da Criação. Por exemplo, quando D'us criou os mares no segundo dia, Ele incorporou nas propriedades da água o potencial dela se dividir caso Ele achasse isso necessário. Foi esta característica que possibilitou que o Mar Vermelho se abrisse quando o povo judeu saiu do Egito, sem a necessidade de nenhum tipo de alteração nas propriedades da água, pois a habilidade de se abrir já estava incorporada nela desde a Criação do mundo.
Porém, esta afirmação do Rambam parece contradizer um ensinamento dos nossos sábios: "10 coisas foram criadas no crepúsculo da véspera do primeiro Shabat: a boca da terra (que engoliu Korach), a boca do poço (de Miriam, que fornecia água para o povo judeu no deserto), a boca da mula (de Bilaam, que deu uma bronca nele)..." (Pirkei Avót 5:6). Porém, se o Rambam está correto em sua afirmação de que todos os milagres foram programados na natureza no momento em que os elementos associados a este milagre estavam sendo criados, então por que estes 10 milagres citados no Pirkei Avót foram criados apenas na véspera do Shabat, e não cada um junto com seu elemento correspondente?
Explica o Rav Yohanan Zweig que todas as criações podem ser classificadas dentro de 4 níveis de existência: "Domem" (Inanimados), "Tsomeach" (Vegetais), "Chai" (Animais) e "Medaber" (Ser humano, que tem a habilidade da fala). O que é um milagre aberto? É quando D'us interfere nas leis da natureza, como quando Ele transformou as águas do Egito em sangue ou trouxe uma enorme quantidade de insetos e animais ferozes de um lugar para o outro. Mas este é um tipo mais baixo de interferência de D'us, no qual não há mudança no nível de existência dos elementos envolvidos. Por exemplo, tanto a água quanto o sangue são "Domem", e a transferência dos animais e insetos também não muda seu nível de existência como um "Chai".
Já os 10 milagres criados no crepúsculo da véspera do primeiro Shabat são milagres únicos e especiais, pois foram catalisadores que tornaram possível para outras criações transcenderem, de um nível mais baixo para um nível mais alto de existência. Por exemplo, o milagre da boca da mula de Bilaam permitiu que um ser "Chai" se transformasse em um "Medaber". Também Korach não foi simplesmente tragado por um buraco na terra, a Torá descreve que a terra "abriu sua boca", isto é, se transformou em uma criatura viva, passando de "Domem" para "Chai".
De acordo com o Rav Yehuda Loew (Praga, 1525 - 1609), mais conhecido como Maharal de Praga, quanto mais próximo do Shabat algo foi criado, mais esta criação extraiu sua energia do Shabat para sua existência. Por isso os milagres que eram mais sobrenaturais, que envolviam inclusive mudanças de um nível para outro, foram criados mais próximos do Shabat, para que pudessem extrair o máximo de energia possível.
Explica Rashi (França, 1040 - 1105), comentarista da Torá, que o poço de Miriam mencionado no Pirkei Avót era a mesma pedra que Moshé golpeou. Este poço já havia sido criado no crepúsculo da véspera de Shabat, justamente por conter o potencial de transcender e mudar de nível. Isto quer dizer que se Moshé tivesse falado com a pedra, ela teria se transformado de um "Domem" em um "Chai", um objeto vivo, com o qual seria possível interagir através da fala. Mas ao bater na pedra, Moshé tratou-a apenas como um "Domem", perdendo a oportunidade única de santificar o nome de D'us através de um milagre que transcendia os níveis de existência das criaturas. Isto mostra o quanto é grave deixarmos de aproveitar oportunidades nas quais podemos santificar o nome de D'us.
Este ensinamento também é muito importante para nós. Apesar de já não termos mais profetas como Moshé, que podiam fazer milagres diante de todo o povo, e nem milagres abertos que envolvem grandes intervenções de D'us na natureza, mesmo assim ainda temos o potencial de, nos atos mais simples do cotidiano, santificar o nome de D'us.
Vivemos em uma época difícil, onde a enganação e a desonestidade são normais e aceitáveis. Nossa sociedade se acostumou a viver de acordo com a "Lei de Gerson", a filosofia de sempre levar vantagem em tudo. As notícias dos jornais nos desanimam, pois parece que não há fim para tanta malandragem e desonestidade. Mas isto não é motivo para desistirmos de lutar, ao contrário, é uma grande oportunidade. Quando uma vela está acesa durante o dia, ela passa despercebida aos olhos das pessoas, mas uma vela na escuridão chama muita atenção. O mundo atual se compara a uma grande escuridão espiritual, e nossos bons atos se comparam a uma pequena vela que acendemos. Cada bom ato faz diferença, cada ato de honestidade chama a atenção de todos. Um motorista de taxi que devolve uma carteira com dinheiro esquecida no seu taxi vira um herói e aparece na manchete de todos os jornais, apesar de não ter feito mais do que sua obrigação, já que a Torá nos obrigar a devolver um objeto encontrado. A escuridão é tanta que o brilho de um pequeno bom ato tem o potencial de iluminar muito mais. Alguns atos como devolver o troco recebido a mais, tratar bem os funcionários e pagá-los na data certa, devolver um objeto encontrado e não utilizar objetos de outras pessoas sem permissão, apesar de serem pequenas atitudes, deixam uma grande marca. Esta é a nossa oportunidade de santificar o nome de D'us através de pequenos atos de honestidade. E se cada um conseguir acender sua pequena vela, conseguiremos juntos transformar o mundo em um lugar muito mais iluminado.
SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm
Mas desta explicação fica uma grande pergunta: por que foi considerado menos Kidush Hashem as pessoas terem recebido água retirada de uma pedra através do cajado de Moshé? Não foi um enorme milagre o fato de mais de 3 milhões de pessoas terem recebido água para beber, retirada de uma pedra no meio do deserto? Qual teria sido a diferença se Moshé tivesse falado com a pedra, ao invés de golpeá-la?
Afirma o Rambam (Maimônides) (Espanha, 1135 - Egito, 1204), que todos os milagres que já ocorreram e os que ainda vão ocorrer foram originalmente programados nos 6 dias da Criação. Por exemplo, quando D'us criou os mares no segundo dia, Ele incorporou nas propriedades da água o potencial dela se dividir caso Ele achasse isso necessário. Foi esta característica que possibilitou que o Mar Vermelho se abrisse quando o povo judeu saiu do Egito, sem a necessidade de nenhum tipo de alteração nas propriedades da água, pois a habilidade de se abrir já estava incorporada nela desde a Criação do mundo.
Porém, esta afirmação do Rambam parece contradizer um ensinamento dos nossos sábios: "10 coisas foram criadas no crepúsculo da véspera do primeiro Shabat: a boca da terra (que engoliu Korach), a boca do poço (de Miriam, que fornecia água para o povo judeu no deserto), a boca da mula (de Bilaam, que deu uma bronca nele)..." (Pirkei Avót 5:6). Porém, se o Rambam está correto em sua afirmação de que todos os milagres foram programados na natureza no momento em que os elementos associados a este milagre estavam sendo criados, então por que estes 10 milagres citados no Pirkei Avót foram criados apenas na véspera do Shabat, e não cada um junto com seu elemento correspondente?
Explica o Rav Yohanan Zweig que todas as criações podem ser classificadas dentro de 4 níveis de existência: "Domem" (Inanimados), "Tsomeach" (Vegetais), "Chai" (Animais) e "Medaber" (Ser humano, que tem a habilidade da fala). O que é um milagre aberto? É quando D'us interfere nas leis da natureza, como quando Ele transformou as águas do Egito em sangue ou trouxe uma enorme quantidade de insetos e animais ferozes de um lugar para o outro. Mas este é um tipo mais baixo de interferência de D'us, no qual não há mudança no nível de existência dos elementos envolvidos. Por exemplo, tanto a água quanto o sangue são "Domem", e a transferência dos animais e insetos também não muda seu nível de existência como um "Chai".
Já os 10 milagres criados no crepúsculo da véspera do primeiro Shabat são milagres únicos e especiais, pois foram catalisadores que tornaram possível para outras criações transcenderem, de um nível mais baixo para um nível mais alto de existência. Por exemplo, o milagre da boca da mula de Bilaam permitiu que um ser "Chai" se transformasse em um "Medaber". Também Korach não foi simplesmente tragado por um buraco na terra, a Torá descreve que a terra "abriu sua boca", isto é, se transformou em uma criatura viva, passando de "Domem" para "Chai".
De acordo com o Rav Yehuda Loew (Praga, 1525 - 1609), mais conhecido como Maharal de Praga, quanto mais próximo do Shabat algo foi criado, mais esta criação extraiu sua energia do Shabat para sua existência. Por isso os milagres que eram mais sobrenaturais, que envolviam inclusive mudanças de um nível para outro, foram criados mais próximos do Shabat, para que pudessem extrair o máximo de energia possível.
Explica Rashi (França, 1040 - 1105), comentarista da Torá, que o poço de Miriam mencionado no Pirkei Avót era a mesma pedra que Moshé golpeou. Este poço já havia sido criado no crepúsculo da véspera de Shabat, justamente por conter o potencial de transcender e mudar de nível. Isto quer dizer que se Moshé tivesse falado com a pedra, ela teria se transformado de um "Domem" em um "Chai", um objeto vivo, com o qual seria possível interagir através da fala. Mas ao bater na pedra, Moshé tratou-a apenas como um "Domem", perdendo a oportunidade única de santificar o nome de D'us através de um milagre que transcendia os níveis de existência das criaturas. Isto mostra o quanto é grave deixarmos de aproveitar oportunidades nas quais podemos santificar o nome de D'us.
Este ensinamento também é muito importante para nós. Apesar de já não termos mais profetas como Moshé, que podiam fazer milagres diante de todo o povo, e nem milagres abertos que envolvem grandes intervenções de D'us na natureza, mesmo assim ainda temos o potencial de, nos atos mais simples do cotidiano, santificar o nome de D'us.
Vivemos em uma época difícil, onde a enganação e a desonestidade são normais e aceitáveis. Nossa sociedade se acostumou a viver de acordo com a "Lei de Gerson", a filosofia de sempre levar vantagem em tudo. As notícias dos jornais nos desanimam, pois parece que não há fim para tanta malandragem e desonestidade. Mas isto não é motivo para desistirmos de lutar, ao contrário, é uma grande oportunidade. Quando uma vela está acesa durante o dia, ela passa despercebida aos olhos das pessoas, mas uma vela na escuridão chama muita atenção. O mundo atual se compara a uma grande escuridão espiritual, e nossos bons atos se comparam a uma pequena vela que acendemos. Cada bom ato faz diferença, cada ato de honestidade chama a atenção de todos. Um motorista de taxi que devolve uma carteira com dinheiro esquecida no seu taxi vira um herói e aparece na manchete de todos os jornais, apesar de não ter feito mais do que sua obrigação, já que a Torá nos obrigar a devolver um objeto encontrado. A escuridão é tanta que o brilho de um pequeno bom ato tem o potencial de iluminar muito mais. Alguns atos como devolver o troco recebido a mais, tratar bem os funcionários e pagá-los na data certa, devolver um objeto encontrado e não utilizar objetos de outras pessoas sem permissão, apesar de serem pequenas atitudes, deixam uma grande marca. Esta é a nossa oportunidade de santificar o nome de D'us através de pequenos atos de honestidade. E se cada um conseguir acender sua pequena vela, conseguiremos juntos transformar o mundo em um lugar muito mais iluminado.
SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm
Nm. 19:1-22:1, Jz. 11:1-33